Ambipar entra em proteção judicial de insolvência e vê futuro em risco

Em 24 de setembro de 2025, as controladoras da Ambipar – Ambipar Participações e Empreendimentos S.A. e Environmental ESG Participações S.A. – solicitaram ao Judiciário a entrada em um processo de recuperação judicial supervisionado. A decisão imediata foi a concessão de uma liminar que suspende temporariamente qualquer ação judicial ou extrajudicial de credores contra as empresas e suas filiais, incluindo a Ambipar Emergency Response.
Contexto da crise financeira
A empresa, reconhecida como líder global em soluções ambientais, oferece serviços de resposta a emergências, incêndios, incidentes marítimos, assistência médica, industrial e ambiental em 41 países. No entanto, a expansão internacional veio acompanhada de um acúmulo de dívidas que começou a pressionar o fluxo de caixa nos últimos dois anos.
Em 2023, os administradores lançaram um plano de desendividamento que visava reduzir o endividamento bruto para 4,5 vezes o EBITDA até 2025. O plano contou com a emissão de um green bond de US$ 400 milhões, destinado a projetos sustentáveis, e com medidas de corte de custos operacionais. Apesar dessas ações, a agência de classificação Fitch manteve outlook negativo, apontando falhas de governança e a necessidade de reformas estruturais mais profundas.
Relatórios internos revelaram que a empresa enfrentava dificuldades para atender pagamentos de juros, e que algumas subsidiárias já estavam em situação de inadimplência parcial. A pressão dos credores começou a se intensificar, levando a revisões contratuais e, em alguns casos, a pedidos de renegociação de dívida.
Impactos e perspectivas
A abertura do processo de insolvência tem repercussões imediatas e de longo prazo. No curto prazo, a liminar protege os ativos da Ambipar de bloqueios e execuções, permitindo que as operações de resposta a emergências continuem, ao menos em nível mínimo, para evitar prejuízos a clientes críticos, como indústrias químicas e portos.
Para acionistas, o cenário é alarmante: as ações da companhia podem sofrer desvalorização acentuada, e a possibilidade de capitalização via cessão de ativos ou venda de participações se torna mais provável. Além disso, a confiança dos investidores internacionais, que anteriormente se atraiam pelos projetos de restauração ambiental – como a recuperação de 200 hectares em São Sebastião com drones e biocápsulas biodegradáveis – pode se deteriorar.
Do ponto de vista regulatório, o caso levanta questões sobre a capacidade do modelo de negócios de empresas de serviços ambientais de sustentar a expansão global sem comprometer a solidez financeira. A recuperação judicial supervisionada impõe ao plano de reestruturação a aprovação de credores, que examinarão a viabilidade das unidades de negócio, a rentabilidade dos contratos de longo prazo e a eficácia das iniciativas de eficiência.
Especialistas de mercado indicam que a Ambipar pode precisar vender ativos não essenciais, como filiais em regiões com menor margem, ou buscar novos investidores estratégicos dispostos a aportar capital em troca de participação acionária. Em paralelo, a empresa deverá reforçar a governança corporativa, implantando comitês de risco e auditoria independentes, medida frequentemente exigida por agências de rating para reverter o outlook negativo.
Enquanto o processo judicial avança, clientes e parceiros de projetos sustentáveis aguardam respostas sobre a capacidade da Ambipar de cumprir contratos e manter padrões de qualidade. A continuidade dos serviços críticos, sobretudo em regiões vulneráveis a desastres ambientais, depende da rapidez com que a companhia apresentar um plano de recuperação viável e ganhar a confiança dos credores.