Betty Gofman, aos 57, posa sem filtros e critica padrões de beleza: "Falta de amor próprio"

Betty Gofman, aos 57, posa sem filtros e critica padrões de beleza: "Falta de amor próprio" nov, 2 2025

Aos 57 anos, Betty Gofman decidiu olhar no espelho — e mostrar ao mundo o que viu. Em 1º de maio de 2022, a atriz brasileira publicou duas fotos sem filtros, sem maquiagem — só um batom —, sem botox e sem preenchimentos. Nada de retocar rugas, nem suavizar a pele flácida, nem esconder os fios brancos. "Difícil envelhecer? Muito. Dolorido? Muito. Mas gosto de me olhar no espelho e me reconhecer nele", escreveu ela, em post que virou referência nacional. A mensagem, simples e cortante, não era só um autoafirmativo. Era um protesto. Contra um padrão de beleza que, segundo ela, exige "uma imensa falta de amor próprio".

Um espelho que não vende produtos

O que parecia um simples clique nas redes sociais se transformou em um manifesto. Gofman, conhecida pelo papel de Dona Bela na versão moderna de "Escolinha do Professor Raimundo", usou sua plataforma não para promover algo, mas para questionar. "Ando muito impressionada com moças de 30 anos, bem mais jovens do que eu, com o rosto totalmente transformado", disse. Ela contou ter demorado minutos para reconhecer uma ex-colega de trabalho, tão alterada por procedimentos estéticos que parecia outra pessoa. "Sinto um pouquinho de pena dessa escolha", admitiu. O termo que ela usou — "harmonização facial" — se tornou, nos dias seguintes, um mantra nas discussões sobre corpo e identidade no Brasil.

A crítica não era contra a liberdade de escolha. "Cada um faz as suas escolhas, né?" — ela deixou claro. Mas o que a incomodava era a pressão silenciosa, a ideia de que envelhecer naturalmente é falha, e que só vale ser bela se for "reprogramada". "Tudo isso custa tão caro. Tudo tão esquisito", observou. A frase ecoou. Não só entre fãs, mas entre artistas, feministas e até médicos que atuam na área da estética.

Reações que cruzam gerações

A artista Linn da Quebrada, conhecida por sua arte transgressora e política, respondeu ao post com uma frase que virou meme: "Esse texto, afiado feito um bisturi mas que suaviza a pele e ameniza a vida." Outro seguidor escreveu: "Muitas negociações. Mas que sejam por nós e não pela indústria da estética estática." A reação não foi unânime — alguns chamaram de "exibicionismo", outros de "vaidade disfarçada de rebeldia". Mas a maioria entendeu: Gofman não estava pedindo aplausos. Estava pedindo que a gente parasse de enxergar o envelhecimento como um defeito.

Na época, o debate ganhou corpo em mídias como Revista Ana Maria e Midia Ninja, que publicaram reportagens detalhadas sobre o assunto. A Revista Ana Maria destacou o post em 5 de maio, enquanto o Midia Ninja revisitou o tema em 30 de maio, apontando a discrepância de datas — mas confirmando a identidade do conteúdo. O fato de duas mídias tão distintas abordarem o mesmo tema mostra que o assunto transcendeu o entretenimento: tornou-se um sintoma cultural.

Um padrão que mata a autenticidade

Um padrão que mata a autenticidade

O que Gofman denunciou não é novo. Mas agora, com redes sociais e influenciadores, o padrão se tornou quase obrigatório. Jovens mulheres, muitas delas com menos de 30 anos, buscam procedimentos como preenchimento labial, elevação de sobrancelha, modelagem de mandíbula — tudo para se encaixar em um ideal que parece saído de um filtro de Instagram. A indústria da beleza, movimentando bilhões, não apenas vende produtos: vende identidade. E essa identidade, muitas vezes, não é a sua.

Na prática, isso significa que uma mulher que envelhece com naturalidade passa a ser vista como "descuidada", "velha demais" ou "sem ambição". Gofman, por outro lado, é uma das poucas celebridades brasileiras que ainda mantém uma carreira sólida — e respeitada — sem se submeter a esse ritual. Ela venceu o Prêmio Shell por sua atuação em "O Burguês Ridículo" e o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Miami Brazilian Film Festival por "Até que a Vida Nos Separa". Nada de retoques. Só talento, presença e coragem.

Por que isso importa agora?

Por que isso importa agora?

Porque a pressão para parecer jovem nunca foi tão intensa. E porque, ao mesmo tempo, a geração que cresceu com redes sociais está começando a se perguntar: "Será que isso tudo vale a pena?". Gofman não é a primeira a falar sobre isso. Mas é uma das poucas que o fez com a autoridade de quem já viveu décadas no centro da indústria — e ainda assim escolheu ser ela mesma. Ela não condena quem faz procedimentos. Ela lamenta que tantas mulheres sintam que não são suficientes como são.

Em um país onde 72% das mulheres entre 25 e 45 anos já fizeram algum procedimento estético, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Estética (2021), o gesto de Gofman foi revolucionário — não por ser radical, mas por ser comum. Ela só mostrou o que todo mundo já sabe: envelhecer não é um fracasso. É um direito.

Frequently Asked Questions

Por que Betty Gofman foi tão impactante ao falar sobre envelhecimento?

Ela é uma atriz consagrada, com carreira de décadas e reconhecimento por talento, não por aparência. Ao se mostrar sem retocar nada, desafiou a lógica da indústria da beleza que valoriza jovens e "perfeitas". Seu status de referência cultural deu peso à mensagem: envelhecer não é um erro, e sim uma escolha legítima.

O que é "harmonização facial" e por que ela a critica?

Harmonização facial é um conjunto de procedimentos estéticos — como preenchimentos, botox e implantes — para remodelar o rosto de forma artificial. Gofman a critica não por ser proibida, mas por ser pressionada como norma, especialmente entre jovens. Ela vê nisso uma busca por aceitação que substitui a autoaceitação, e chama de "estranho" e caro — em termos financeiros e emocionais.

Como a sociedade brasileira reagiu ao post dela?

A reação foi majoritariamente positiva, com milhares de mensagens de apoio, especialmente de mulheres que se identificaram com a luta contra padrões impossíveis. Artistas como Linn da Quebrada elogiaram a coragem. Mas também houve críticas de quem viu na postagem uma forma de elitismo — já que nem todas têm acesso a cuidados básicos de saúde, muito menos à liberdade de escolha.

Existe alguma relação entre o post de Gofman e movimentos como o Body Positivity?

Sim. O post de Gofman é uma extensão do Body Positivity, mas com foco no envelhecimento — algo que muitos movimentos ainda ignoram. Enquanto o Body Positivity luta contra padrões de magreza, Gofman luta contra a ideia de que a beleza só existe na juventude. Ambos desafiam a indústria da estética e reivindicam o direito de existir sem transformações.

Quais são os riscos da pressão por procedimentos estéticos em jovens?

Estudos da Associação Brasileira de Psiquiatria apontam aumento de 40% nos casos de dismorfia corporal entre jovens de 18 a 25 anos desde 2018. A pressão por um rosto "idealizado" pode levar a ansiedade, depressão e dependência de cirurgias repetidas. Gofman alerta: quando o espelho deixa de ser um aliado e vira um inimigo, a perda é de identidade — não só de pele.

Betty Gofman já falou sobre isso antes?

Sim. Em entrevistas anteriores, ela já criticou a objetificação das mulheres na TV e o uso de filtros em programas. Mas foi em maio de 2022 que ela uniu a imagem e a palavra de forma mais direta e pública. O impacto foi maior porque ela não estava promovendo nada — só sendo ela mesma, com todas as marcas da vida.

1 Comment

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    Sandra Blanco

    novembro 3, 2025 AT 05:16

    Se todo mundo fosse assim, o mundo seria mais leve. Ninguém precisa de botox pra ser bonito.

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