Caio Bonfim perde aliança e vira campeão mundial nos 20 km em Tóquio 2025

Caio Bonfim perde aliança e vira campeão mundial nos 20 km em Tóquio 2025 set, 20 2025

Ouro em Tóquio apesar da aliança perdida

Caio Bonfim fez a prova da vida nos 20 km de marcha atlética e saiu campeão mundial em Tóquio 2025. O brasileiro, de 34 anos, venceu com autoridade o evento mais tradicional da marcha, coroando uma temporada em que já havia quebrado o recorde nacional e colecionado resultados de impacto. No meio do percurso, um susto: a aliança de casamento escapou da mão e caiu no asfalto. Ele não hesitou, manteve o ritmo e seguiu firme até a linha de chegada.

A cena da aliança no chão virou detalhe diante do que o resultado representa. Depois de anos batendo na trave, com pódios em Mundiais e prata olímpica, o título mundial enfim chegou. O brasileiro entrou na prova como número 2 do ranking e mostrou por que vinha sendo apontado como favorito. Controlou o pelotão na primeira metade, evitou riscos com punições técnicas e, quando a prova afunilou, acelerou com precisão de relógio.

Para quem não acompanha de perto a marcha atlética: a regra exige um pé sempre em contato com o solo e o joelho estendido na fase de apoio. Parece simples, mas é o oposto. Os árbitros ficam de olho o tempo todo, e três cartões significam desclassificação. Em Tóquio, Caio foi cirúrgico. Marchou limpo, economizou energia nos trechos de vento e guardou força para a parte final, onde a prova costuma se decidir.

O incidente da aliança aconteceu numa área de hidratação, quando ele ajeitava a mão para pegar a garrafinha. Em provas longas, parar para procurar um objeto pode custar a corrida inteira. A escolha de seguir foi fria e técnica. Depois da chegada, membros da delegação ainda tentaram localizar a peça no circuito, mas até o fechamento desta edição ela não havia sido encontrada. O que ficou registrado mesmo foi o ouro mais pesado da carreira.

O circuito em Tóquio, plano e rápido, favoreceu uma prova tática. Sem mudanças bruscas de ritmo no início, a decisão veio nos quilômetros finais, exatamente onde a experiência pesa. Caio soube ler a corrida, respondeu aos ataques e impôs seu passo quando as pernas dos rivais já começavam a falhar. Cruzo da linha de chegada, braços abertos, expressão de quem sabe que aquele é o topo do esporte.

O caminho até o título e o que vem pela frente

O caminho até o título e o que vem pela frente

O ouro em Tóquio não caiu do céu. Em fevereiro, Caio estabeleceu o recorde brasileiro dos 20 km com 1:17:37, marca que o colocou no radar entre os melhores do mundo no ano. Logo depois, venceu o Grande Prêmio Internacional de Rio Maior, em Portugal, com 1:20:47, em duelo direto com o sueco Perseus Karlström, um dos adversários mais duros do circuito. Essas duas provas já mostravam a combinação que ele levou ao Mundial: ritmo alto com controle emocional.

Ao longo da carreira, Caio colecionou pódios e top 5 em grandes campeonatos. Antes de Tóquio, o currículo já tinha prata olímpica e três medalhas em Mundiais (uma prata e dois bronzes). Além dos 20 km, ele domina outras distâncias e é recordista brasileiro também nos 35 km e 50 km, o que explica a consistência em temporadas longas e agendas cheias. A versatilidade virou vantagem estratégica: amplia a base de resistência e dá recurso na hora decisiva.

Principais marcas e feitos recentes do brasileiro:

  • Recorde brasileiro – 20 km: 1:17:37 (fevereiro de 2025)
  • Vitória no GP Internacional de Rio Maior: 1:20:47, sobre o sueco Karlström
  • Medalhas em Mundiais: 1 prata e 2 bronzes
  • Prata nos Jogos Olímpicos

A maturidade também se nota no modo de competir. Em anos anteriores, Caio por vezes precisou buscar corrida vindo de trás. Agora, ele alterna entre marcar o pelotão e impor o ritmo quando necessário, sem entrar em sprint precipitado. Nos 20 km, uma diferença de poucos segundos por quilômetro derruba adversários. Em Tóquio, ele manteve constância e guardou um último trecho forte, receita que costuma funcionar em grandes finais.

Do outro lado, a concorrência era pesada. Karlström chegou ao Mundial como referência europeia, experiente e com resultados sólidos na temporada. A rivalidade é das boas e tem puxado os dois para cima desde o início do ano. A vitória em Rio Maior, num duelo direto, foi um sinal do que viria. Em Tóquio, o equilíbrio durou até a hora em que o brasileiro acelerou sem olhar para trás.

O impacto do título passa da medalha. A marcha atlética ganha visibilidade, e esse efeito costuma desaguar na base. Mais competições no calendário local, mais procura de jovens por escolinhas e, claro, mais apoio para quem já está no alto rendimento. O Brasil tem tradição em provas de resistência, mas a marcha sempre brigou por espaço. Um campeão mundial muda a conversa.

Há também o aspecto técnico. O recorde nacional de 1:17:37 coloca Caio num patamar que conversa com as melhores marcas do planeta. Em termos práticos, significa que, em um dia certo, com clima e percurso favoráveis, ele está no jogo por qualquer título. Tóquio 2025 crava essa condição em letras grandes.

No planejamento daqui para frente, a tendência é eleger objetivos específicos em vez de abraçar tudo ao mesmo tempo. O calendário internacional da marcha segue exigente, com etapas tradicionais na Europa e campeonatos que testam os 20 km e os 35 km. Escolher as provas certas, manter a saúde e preservar o ganho técnico desta temporada devem ser as prioridades.

Curiosamente, o episódio da aliança ajuda a explicar o campeão. Em provas longas, imprevistos aparecem: um aperto no tênis, uma garrafa que cai, um toque de ombro numa curva. A diferença entre medalha e frustração é a reação no segundo seguinte. Em Tóquio, Caio olhou para frente e marchou. O resto da história está no pódio.

Para quem acompanha a modalidade de longe, vale um último ponto: a marcha é um jogo de milésimos e milímetros. Milésimos no cronômetro, milímetros no contato do pé com o chão. O brasileiro passou pelos filtros da arbitragem, manteve a técnica encaixada e achou uma velocidade sustentável quando os outros já oscilavam. Não tem muito segredo além de trabalho e repetição. Quando isso encontra um dia como o de Tóquio, nasce um campeão mundial.

O ouro, os recordes nacionais e a forma apresentada em 2025 montam um retrato claro: Caio sustenta alto nível em diferentes contextos, do circuito europeu às grandes competições internacionais. Com 34 anos, ele combina experiência e físico em bom estado — e isso, na marcha, é quase sempre sinônimo de mais disputas grandes no horizonte.