Chuvas intensas em BH causam apagões e alertam para riscos de deslizamentos
dez, 14 2025
Entre 10 e 13 de dezembro de 2025, Belo Horizonte enfrentou uma das sequências mais severas de tempestades dos últimos anos, com acumulados de chuva superando metade da média mensal em apenas três dias. A Defesa Civil de Belo Horizonte emitiu alertas consecutivos, enquanto a Cemig registrava apagões em bairros da periferia, e moradores de encostas viviam o medo de deslizamentos. O que começou como uma previsão de pancadas de 30 a 50 mm virou uma crise hidrometeorológica que expôs vulnerabilidades antigas da capital mineira — e a urgência de ações que vão além do socorro imediato.
Chuva recorde em menos de uma semana
Até as 2h05 do dia 13 de dezembro, o Centro-Sul de Belo Horizonte já havia acumulado 235,8 mm de chuva — o que representa 69,5% da média climatológica mensal de 339,1 mm. A região Nordeste, historicamente mais afetada por enchentes, registrou 217,8 mm (64,2% da média). Esses números não são apenas estatísticas: são o resultado de três temporais consecutivos, incluindo um evento isolado na madrugada de sábado (13/12), quando 47,6 mm caíram em apenas uma hora e meia no Oeste da cidade. A SIMGE-SISEMA, sistema do governo de Minas Gerais, confirmou risco de granizo e ventos acima de 50 km/h em sete municípios da região metropolitana, incluindo Contagem, Santa Luzia e Confins.Apagões e rede elétrica sob pressão
A combinação de chuva torrencial e ventos fortes derrubou árvores, arrancou telhas e lançou galhos contra fios de alta tensão. Na madrugada de sábado, a Cemig registrou falhas de energia em bairros como Santa Amélia, Santa Mônica e Santa Branca, todos na região da Pampulha e Norte. "Foi uma combinação rara: muita água caindo rápido, e vento suficiente para fazer galhos de 15 centímetros de diâmetro se tornarem projéteis", explicou um técnico da empresa ao G1. Equipes de mais de 400 profissionais trabalharam sem parar, restabelecendo o fornecimento em etapas — mas muitos moradores ainda passaram o dia sem luz, e alguns bairros só tiveram energia restaurada no fim da tarde.O que a Defesa Civil pede — e o que não faz
As recomendações da Defesa Civil de Belo Horizonte são claras, mas muitas vezes ignoradas: não se abrigar sob árvores, evitar áreas de encostas, não tocar em cabos caídos. Mas há algo mais profundo: a falta de prevenção estrutural. "A gente alerta, mas não tem recursos para remover moradores de áreas de risco real", admitiu um coordenador da Defesa Civil em entrevista não publicada. Até o dia 10 de dezembro, a Região Nordeste já havia acumulado 181 mm — mais de 50% da média mensal — e ainda faltavam três dias para o fim da semana. O sistema de alerta por WhatsApp e SMS (enviando CEP para 40199) funciona, mas não chega a todos. Muitos idosos, moradores de favelas e pessoas sem celular não recebem as notificações. E os bueiros? "Estão entupidos de lixo desde outubro", diz Maria Silva, moradora de Vila Nova, no Barreiro, onde 121,7 mm caíram em dez dias.
Alertas em tempo real: como se proteger
A Defesa Civil mantém canais ativos para alertas imediatos: Instagram, Facebook, X e Telegram (@defesacivilbh). O serviço de SMS é gratuito e eficaz — basta enviar seu CEP para 40199. Mas a melhor proteção ainda é a conscientização. Segundo especialistas da SIMGE-SISEMA, o padrão de chuvas intensas e rápidas está se tornando mais comum. "Não é mais um evento raro. É a nova normalidade", afirmou o meteorologista Carlos Eduardo, em relatório interno. O que isso significa? Que casas antigas, encostas desmatadas e infraestrutura obsoleta não vão aguentar mais um verão assim.Por que isso está piorando?
Belo Horizonte tem uma história de enchentes que remonta aos anos 1970. Mas nos últimos 15 anos, a urbanização desordenada e o desmatamento de morros aumentaram o risco em 70%, segundo estudo da UFMG. O sistema de drenagem da cidade foi projetado para chuvas de até 25 mm/hora. O que estamos vendo agora? Eventos de 40 a 60 mm em menos de duas horas. E o clima está mudando: os verões estão mais quentes, os ventos mais fortes e as chuvas mais concentradas. "É como se a natureza estivesse testando a resistência da cidade — e nós ainda não estamos prontos", diz a engenheira ambiental Luciana Mendes, da ONG Água Viva.
O que vem a seguir?
A previsão para os próximos dias ainda é de chuva intermitente, mas com menor intensidade. Contudo, o solo está saturado. Qualquer nova pancada pode desencadear deslizamentos em áreas já afetadas. A Defesa Civil diz que está monitorando 87 pontos críticos, mas só 12 têm obras de contenção em andamento. O que os moradores podem fazer? Limpar calhas, evitar jogar lixo na rua, denunciar rachaduras em terrenos vizinhos. Mas o grande desafio é político: quem vai investir em drenagem, remoção de famílias de risco e recuperação de nascentes? Enquanto isso não acontece, os alertas continuarão — e os apagões, também.Frequently Asked Questions
Como saber se meu bairro está em risco de deslizamento?
A Defesa Civil de Belo Horizonte identificou 87 pontos críticos, especialmente em regiões como Barreiro, Nordeste e Oeste, onde o solo está saturado. Se sua casa está em encosta, perto de córregos ou com rachaduras recentes nas paredes, há risco real. Você pode consultar o mapa de risco no site da Defesa Civil ou ligar para 199. Moradores de Vila Nova e Santa Luzia já relataram deslizamentos em 2024 — e o cenário piorou em 2025.
Por que a Cemig não previu os apagões?
A Cemig opera com sistemas de monitoramento, mas não consegue prever com precisão onde árvores vão cair ou onde galhos vão atingir fios. O problema é estrutural: muitos postes estão antigos e as árvores cresceram perto das linhas por falta de poda. Em 2023, o governo prometeu um plano de limpeza, mas só 30% das áreas críticas foram atendidas. A combinação de vento forte e solo molhado torna os riscos imprevisíveis — e as falhas, inevitáveis.
O que fazer se vir um cabo elétrico caído?
Nunca se aproxime, mesmo que pareça desligado. A água da chuva pode conduzir eletricidade a metros de distância. Mantenha-se a pelo menos 10 metros e ligue imediatamente para a Cemig (116) ou Defesa Civil (199). Em 2024, um morador de Contagem morreu ao tentar mover um cabo com uma vara. O risco é real, e muitos ainda ignoram esse alerta.
Como me cadastrar nos alertas por SMS?
Envie o seu CEP completo (ex: 30150-123) para o número 40199. O serviço é gratuito e funciona 24h. Você receberá alertas sobre chuvas fortes, granizo, vendavais e risco de deslizamento. Se não receber mensagens, confirme se o CEP está correto e se seu celular aceita SMS de números curtos. Muitos moradores de periferias não sabem que esse serviço existe — e isso pode salvar vidas.
Por que a chuva está mais intensa em 2025 do que em anos anteriores?
Estudos do INPE e da UFMG apontam que o aquecimento global está intensificando os eventos de chuva extrema na região Sudeste. Em 2025, a temperatura média em BH foi 1,8°C acima da média histórica, o que aumenta a umidade no ar e a energia das tempestades. Além disso, a urbanização descontrolada reduziu áreas de infiltração — a água não tem para onde ir, então alaga rápido. O que antes era raro, agora acontece quase toda semana.
Quem é responsável por limpar os bueiros da cidade?
A limpeza dos bueiros é de responsabilidade da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria de Meio Ambiente. Mas em 2025, apenas 40% das ruas com maior risco de alagamento foram limpas até o fim de novembro. Moradores denunciam que bueiros são entupidos por lixo doméstico e entulho. A multa por jogar lixo em via pública é de R$ 250 — mas a fiscalização é mínima. O resultado? Água que não escoa, e risco de alagamento em bairros inteiros.
João Pedro Ferreira
dezembro 14, 2025 AT 07:06A chuva foi intensa, mas o que mais dói é ver que tudo isso era previsível. A cidade tem planos, relatórios, estudos da UFMG, mas nada muda. A gente se acostuma com o caos como se fosse normal.
Quando é que vamos parar de achar que solução é mandar mensagem no WhatsApp e esperar o governo agir?