Série B 2025 sem Globo: cinco plataformas dividem transmissão histórica do campeonato

Série B 2025 sem Globo: cinco plataformas dividem transmissão histórica do campeonato nov, 11 2025

A primeira rodada da Série B do Campeonato Brasileiro de 2025 começou na sexta-feira, 4 de abril, às 19h30, no Estádio Hailé Pinheiro, em Goiânia, com o duelo entre Goiás e Amazonas-AM. Mas o que realmente chamou atenção não foi o placar — foi a ausência. Pela primeira vez desde 1997, o Grupo Globo não transmite a competição. Vinte e oito anos de exclusividade, encerrados por falta de acordo financeiro. Os clubes, unidos sob a coordenação da Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e da Liga Forte União (LFU), decidiram ir por outro caminho. E o resultado? Uma revolução na forma como o futebol brasileiro é visto: cinco plataformas dividem os 380 jogos da temporada, com transmissões em TV aberta, fechada, streaming e até na TV pública.

Um novo modelo para o futebol de base

O fim da parceria com a Globo não foi um acidente. Foi um movimento calculado. Durante meses, os clubes da Série B, muitos deles com orçamentos apertados e torcidas leais mas dispersas, tentaram negociar um valor justo. A Globo, segundo fontes da F5, sequer apresentou proposta formal. Foi então que a Libra e a LFU uniram forças — algo raro no cenário fragmentado do futebol brasileiro — e abriram o leilão. O resultado? Um modelo descentralizado, inédito desde a era pré-TV por assinatura.

Na TV aberta, a RedeTV! exibirá dois jogos por rodada, sempre às quintas e aos sábados. Já na TV por assinatura, a ESPN — que pertence à The Walt Disney Company Brasil — e a plataforma chinesa Kwai transmitirão simultaneamente todos os jogos. Sim, a Kwai, conhecida no Brasil por vídeos curtos e entretenimento, estreia no esporte nacional com um contrato de 380 jogos. Um movimento surpreendente, mas que reflete o poder crescente das plataformas digitais globais no mercado esportivo.

Streaming, YouTube e a TV pública no jogo

O Disney+ entrou como o grande vencedor do streaming: todos os jogos da Série B estarão disponíveis para seus assinantes sem custo adicional. É um presente para os fãs — e uma arma estratégica para a Disney, que já detém os direitos da Copa do Nordeste, da Libertadores e da Sul-Americana. "Com Copa do Nordeste, CONMEBOL Libertadores, CONMEBOL Sul-Americana e, agora, a Série B, os canais ESPN e o Disney+ são, mais do que nunca, a casa do futebol brasileiro", afirmou Carlos Maluf, Head de Esportes da Disney Brasil.

No YouTube, o canal Desimpedidos vai ao ar com dois jogos por rodada, mantendo sua tradição de cobertura descontraída e acessível. Já o Nosso Futebol, canal do Sporty Group (anteriormente SportyNet), adquiriu os direitos em junho de 2024 e exibirá dois jogos por rodada na TV a cabo — totalizando 56 partidas na temporada. A estreia do canal na competição aconteceu na sexta, 6 de abril, com Cuiabá x Paysandu.

Na virada da temporada, a TV Brasil entrou no jogo. A partir da 23ª rodada, em 25 de agosto, a emissora pública transmitirá ao vivo a partida entre Vila Nova e América-MG no Estádio Onésio Brasileiro Alvarenga. A transmissão será feita pela Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP), que reúne 98 emissoras afiliadas — garantindo cobertura nacional, inclusive em cidades sem acesso a TV por assinatura. "Isso é democratização do esporte", dizem torcedores em comunidades do interior do Pará e do Maranhão.

As vozes por trás da mudança

As vozes por trás da mudança

Para Gabriel Lima, CEO do Condomínio da LFU, a mudança não é só técnica — é moral. "A Série B merece projeção, investimento e espaço, e hoje demos mais um passo importante nessa direção", afirmou. Já Silvio Matos, diretor-executivo da Libra, destacou a valorização do produto: "Cada vez mais é importante que a Série B tenha um produto de mídia relevante. Que seja pensado e valorizado".

E o Sporty Group não fica atrás. Elias Gallego, vice-presidente de marketing da empresa, ressaltou: "Estamos orgulhosos de levar a Série B para ainda mais torcedores em todo o Brasil". A estratégia é clara: não se trata de competir com a Globo, mas de construir um ecossistema próprio — onde o futebol de base ganha voz, visibilidade e renda.

Quem joga, quem sobe, quem cai

A temporada 2025 contará com 20 equipes, representando todas as cinco regiões do país. Entre os clubes, estão rebaixados da Série A como Atlético-GO, e promovidos da Série C como Volta Redonda, Athletic-MG, Remo e Ferroviária. A competição terá 38 rodadas, com o campeonato encerrando em 22 de novembro. Os quatro primeiros subirão para a Série A de 2026, enquanto os quatro últimos serão rebaixados — uma pressão imensa para times com poucos recursos.

Curiosamente, os dois times mineiros, América-MG e Athletic-MG, são os únicos representantes do estado na competição. Ambos integram a LFU, o que explica sua participação ativa nas negociações. Eles não são apenas participantes — são arquitetos da nova era da Série B.

O que vem a seguir

O que vem a seguir

O próximo grande desafio será medir o impacto dessa nova estrutura. Será que a fragmentação prejudica a audiência? Ou, ao contrário, ela amplia o alcance? A TV Brasil, por exemplo, pode estar criando uma nova base de torcedores em regiões historicamente ignoradas pela mídia privada. Já a Kwai pode ser o primeiro grande passo da China para investir pesado no futebol sul-americano.

Para 2026, os clubes já estão discutindo a possibilidade de incluir uma rodada exclusiva no formato "Série B ao Vivo" — com transmissão em realidade aumentada e interação em tempo real via app. O futuro não está mais nas mãos de uma única emissora. Está nas mãos de quem quer ver o futebol de verdade — e não só o que é vendido como espetáculo.

Frequently Asked Questions

Por que a Globo não renovou os direitos da Série B?

A Globo não apresentou proposta formal durante as negociações, segundo informações da F5. Embora não tenha divulgado motivos oficiais, analistas apontam que a baixa audiência comparada à Série A e o alto custo de produção em 20 estados fizeram a transmissão deixar de ser rentável. Os clubes, por sua vez, preferiram um modelo mais diversificado e justo, que garante receita a todos, mesmo aos menores.

Como os clubes mais pobres vão se beneficiar com esse novo modelo?

Ao contrário da antiga estrutura, onde a Globo pagava mais para os grandes clubes, o novo acordo distribui os direitos de forma coletiva e equilibrada entre as 20 equipes. A Libra e a LFU garantiram que cada clube receberá uma fatia proporcional, independentemente do tamanho da torcida. Isso significa que times como Amazonas-AM ou Volta Redonda podem ter receitas de transmissão superiores às de alguns clubes da Série A.

A TV Brasil realmente vai aumentar o alcance da Série B?

Sim. Com a Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP), que abrange 98 emissoras, a TV Brasil leva os jogos a regiões onde a TV por assinatura é rara — como o norte e nordeste interiorano. A exibição da partida Vila Nova x América-MG em 25 de agosto será um teste prático: se a audiência for alta, a emissora pode expandir a cobertura para mais rodadas, criando um novo público fiel.

O que significa a entrada da Kwai no futebol brasileiro?

A Kwai, plataforma chinesa de vídeos curtos, está entrando no esporte como uma estratégia de expansão global. Seu acordo de 380 jogos é o maior já feito por uma empresa asiática no futebol sul-americano. Isso pode abrir portas para investimentos chineses em clubes brasileiros e até em infraestrutura. O risco? Dependência de uma plataforma com modelo de monetização diferente — mas o potencial de engajamento, especialmente entre jovens, é enorme.

O Disney+ realmente transmite todos os jogos sem custo adicional?

Sim. Todos os 380 jogos da Série B estarão disponíveis para qualquer assinante do Disney+, sem taxa extra. É um bônus estratégico para atrair novos clientes no Brasil, onde o serviço ainda está em crescimento. A Disney já domina os direitos da Libertadores e da Sul-Americana; agora, com a Série B, completa o ecossistema do futebol brasileiro — da elite ao acesso.

Há chances de a Globo voltar à Série B no futuro?

É possível, mas não nos próximos dois anos. O contrato com as novas plataformas é de três anos, com cláusulas de exclusividade. Além disso, os clubes estão satisfeitos com o novo modelo, que garante maior equidade. A Globo só voltaria se oferecesse um pacote financeiro muito superior — e mesmo assim, teria que competir com um ecossistema já consolidado e mais diversificado.